Dados do Trabalho
TÍTULO
ABORDAGEM OBSTÉTRICA DE MULHER COM ANGIOEDEMA HEREDITÁRIO - RELATO DE CASO
CONTEXTO
O angioedema hereditário (AEH) é uma doença autossômica dominante, de etiologia ligada à deficiência no inibidor da C1 esterase. Afeta cerca de 1 em cada 50.000 pessoas e possui mortalidade de cerca de 13%, geralmente associada à asfixia por edema laríngeo irresponsivo às terapêuticas habituais (para edemas mediados por histamina). Os episódios de angioedema são caracteristicamente sem urticária ou prurido, uma vez que são mediados pela bradicinina. As crises costumam acometer a pele ou mucosa das vias aéreas superiores e do trato gastrointestinal. Dentre os gatilhos para a exacerbação da doença, a gestação e o parto possuem destaque, provavelmente pelas lesões teciduais maternas.
DESCRIÇÃO DO(S) CASO(S) ou da SÉRIE DE CASOS
Gestante de 28 anos, G2 P0 A1 (1º trimestre), com diagnóstico de angioedema hereditário há 10 anos por investigação familiar. Possui 11 familiares acometidos por esta doença, o mais jovem com um ano de idade. Relatou que as crises anteriores à gestação costumavam ser mais leves, apenas com manifestações cutâneas e gastrointestinais. Na gestação, apresentou duas crises da doença. A primeira, com 23 semanas, se manifestou por edema laríngeo, para a qual fez uso do antagonista de receptor de bradicinina (icatibanto). A segunda, na 36a semana, caracterizou-se por angioedema cutâneo em abdome, de resolução espontânea. Não realizou profilaxia com inibidor de C1 esterase durante a gestação. A paciente entrou em trabalho de parto espontâneo na 39ª semana, evoluindo com parto transpelviano instrumental. O recém-nascido feminino pesou 3.190g, com boa vitalidade (Apgar 08/09). A paciente não apresentou qualquer manifestação clínica de angioedema durante o trabalho de parto, intraparto e pós-parto imediato, tendo ficado em observação por 72 horas para eventuais crises no hospital. A gestante concordou com a descrição científica e acadêmica do seu caso clínico.
COMENTÁRIOS
Destacamos a boa evolução da gestante, com ausência de crises de angioedema durante seu internamento, mesmo diante de parto instrumental. O plano terapêutico para as crises de angioedema deve ser estabelecido precocemente no pré-natal, em conjunto com a alergologia. É fundamental que essas pacientes possuam as medicações adequadas em casa. Porém, destaca-se a dificuldade de acesso a tais drogas, sendo necessário recurso judicial. O uso de icatibanto e inibidor de C1 esterase para tratamento de crises e profilaxia, respectivamente, é bem documentado e seguro durante a gestação.
PALAVRA CHAVE
angioedema heridtário; gestação de alto risco; inibidor de C1 esterase; bradicinina
Área
OBSTETRÍCIA - Gestação de Alto Risco
Autores
Debora Farias Batista Leite, Louise Matos Rocha, Luciano Sampaio Guimarães, Juliana Asfura Pinto Ribeiro , Almerinda Maria do Rego Silva