Dados do Trabalho
TÍTULO
Relato de caso: Encefalite herpética em gestante previamente hígida
CONTEXTO
A encefalite herpética (EHS) é uma patologia rara, grave e de alta morbimortalidade, cuja tríade clássica caracteriza-se por aparecimento agudo de febre, cefaléia e alteração do nível de consciência. A mortalidade atinge cerca de 70% dos doentes não tratados adequadamente; em contrapartida, nos tratados, cai para cerca de 28%.
Na gestação, ocorre, geralmente, no segundo e terceiro trimestres e pode resultar no comprometimento fetal intraútero ocasionando restrição no crescimento fetal (CIUR), óbito ou parto prematuro, além de acometimento do recém-nascido com consequências graves e às vezes fatais. O diagnóstico, frequentemente, é um desafio.
Existem pouco mais de 20 relatos publicados. O trabalho objetiva apresentar um caso de EHS em gestante previamente hígida e comparar o desfecho com os dados disponíveis na literatura.
DESCRIÇÃO DO(S) CASO(S) ou da SÉRIE DE CASOS
Primigesta, 17 anos, 21 semanas, foi admitida na unidade de urgência, levada por familiares, que relataram que a paciente estava com confusão mental, febre e cefaléia. Ao exame apresentava-se consciente, febril, taquicárdica, com fala arrastada e leve confusão mental, sem sinais focais. A ressonância magnética mostrou extensa anormalidade de sinal envolvendo a região temporal esquerda. Aventou-se como hipótese diagnóstica encefalite de provável origem viral e iniciou-se tratamento empírico com aciclovir venoso 500 mg de 8 em 8 horas, IV. O PCR do líquor confirmou a infecção por HVS 1 e 2. No dia seguinte, a paciente evoluiu com piora do quadro neurológico e epilepsia, sendo encaminhada ao CTI. Após 4 dias evoluiu com rebaixamento importante do nível de consciencia e a tomografia mostrou edema cerebral extenso e desvio da minha média. Devido a gestação em curso, não foi possível abrir o protocolo de morte encefálica. Com 24 semanas, após inúmeras complicações, expulsou feto morto com 490g e evoluiu para óbito no dia seguinte.
COMENTÁRIOS
A ESH na gestação é um tema raro e pouco discutido. Não se sabe a taxa de transmissão do vírus da mãe para o feto, nem as conseqüências para ambos à curto e longo prazo. Por isso, é importante que a classe médica de todas as especialidades conheça os principais sinais e sintomas da encefalite herpética, a fim de fazer o diagnóstico rápido para iniciar o tratamento, preferencialmente nos primeiros dois dias de sintomas e assim evitar os desfechos desfavoráveis.
Relatos como este estimulam a discussão sobre o tema e incentivam pesquisas que podem contribuir para redução do impacto da doença e da morbimortalidade.
PALAVRA CHAVE
ENCEFALITE HERPÉTICA, HVS 1-2, COMA, MORTE ENCEFÁLICA
Área
OBSTETRÍCIA - Gestação de Alto Risco
Autores
CAMILA GABRIELE SILVA GAMA, INESSA BERALDO DE ANDRADE BONOMI, ANA CHRISTINA DE LACERDA LOBATO, MARINA DE PAULA LIMA OLIVEIRA