Dados do Trabalho
TÍTULO
Lesão hipóxico-isquêmica do cérebro fetal após cirurgia cardíaca materna
CONTEXTO
As cardiopatias são uma causa importante de mortalidade durante a gestação, sendo responsáveis por aproximadamente 15% dos óbitos maternos. Nos países em desenvolvimento observamos a prevalência das patologias adquiridas, sendo a principal delas a valvulopatia reumática. Se o tratamento clínico não for eficaz, a cirurgia cardíaca pode ser necessária. Estudos mostram que este procedimento realizado durante a gestação está associado a significativa mortalidade e morbidade materna e, sobretudo, fetal.
DESCRIÇÃO DO(S) CASO(S) ou da SÉRIE DE CASOS
Paciente primigesta, de 39 anos, com diagnóstico prévio de estenose valvar mitral grave por febre reumática, com cirurgia cardíaca prévia, sem outras comorbidades. Iniciou acompanhamento no pré natal com 20 semanas de idade gestacional, referindo, já na primeira consulta, piora da dispnéia aos pequenos esforços, dispnéia paroxística noturna e ortopnéia. Com 24 semanas, após avaliação da equipe da da cirurgia cardíaca, foi indicada cirurgia para troca de valva mitral, por falha do tratamento clínico. O USG obstétrico realizado antes do procedimento não apresentava nenhuma alteração. Não houve intercorrências maternas. Realizada cardiotocografia após o procedimento que apresentava feto reativo. Em USG realizado 10 dias de pós-operatório, foi evidenciado ventrículos com parede irregular, com perda de circunvoluções, aumento da ecogenicidade na região central superior do parênquima cerebral, plexo coróide pendente à esquerda, presença de projeção ventricular para parênquima cerebral esquerdo e não foi possível adequada identificação do corpo caloso e da artéria pericalosa. Paciente foi encaminhada para o serviço de Neurossonografia Fetal, e em novo USG foram confirmados os achados do exame prévio, sugerindo lesão hipóxico isquêmica. Paciente permaneceu em acompanhamento, apresentando uma piora das lesões cerebrais do feto. Realizada cesariana por apresentação pélvica com 39 semanas. Feto nasceu com APGAR ⅝, e permanece internado em UTI neonatal.
COMENTÁRIOS
A taxa de morbimortalidade fetal associada à cirurgia ainda permanece alta, 16% a 33%. As principais complicações fetais estão relacionadas a prematuridade (trabalho de parto prematuro e rotura de membranas) e à hipóxia fetal no intraoperatório, podendo levar a óbito intra-operatório e injúrias neurológicas fetais. A idade gestacional no momento da cirurgia, a vitalidade fetal prévia ao procedimento e o tempo e a temperatura da circulação extracorpórea estão diretamente relacionados ao prognóstico fetal após o procedimento.
PALAVRA CHAVE
lesão hipóxico-isquêmica fetal, circulação extracorpórea, cardiopatia materna
Área
OBSTETRÍCIA - Medicina Fetal
Autores
Luiza Graça Coutinho da Silva, Daniela Vinhaes dos Reis, João Victor Jacomele Caldas, Felipe Favorette Campanharo, Herbene José Figuinha Milani, Edward Araújo Júnior